BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 24 jun 2025 08:30 Data de Atualização: 24 jun 2025 08:30
Estar longe da família e dos amigos pode ser um dos grandes desafios de um intercâmbio. Porém, quando você se conecta com colegas intercambistas e faz novas amizades, pode se surpreender com a força que vem desses novos vínculos criados em viagem!
É sobre essa experiência que o estudante Guilherme Lorenzo Martins Carvalho, do curso técnico integrado em Eletrônica do Câmpus Florianópolis, nos conta em seu relato de intercâmbio. Durante este semestre ele está fazendo parte do Propicie, o programa de intercâmbio do IFSC, no Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), em Portugal. Além de participar de um projeto por lá, ele também está conhecendo novas culturas, fazendo novas amizades e fortalecendo laços com os colegas de IFSC que também embarcaram nessa jornada!
Veja o relato completo do Guilherme:
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Sempre tem algo além do horizonte.
Viver uma realidade, por vezes alternativa, tem me levado a adquirir experiências e conexões das quais nunca vou esquecer; a oportunidade que recebi é um divisor de águas na minha trajetória. Minha gratidão ao IFSC e aos meus colegas é algo que não posso mensurar. Posso começar esse relato reiterando que, às vezes, nem notamos, mas existem detalhes únicos no nosso cotidiano que nos fazem ser muito diferentes de outros povos. Nosso jeito de tratar as pessoas é extremamente único, e aqui em Portugal eles notam isso: por vezes ouvi pessoas alegres e comunicativas serem comparadas com o categorizado “Brazilian way”.
A começar pela língua que, apesar de ser outra, em pouco difere em termos de entendimento e compreensão, costumo dizer para colegas não-portugueses, que o português aqui é o nosso português extremamente formal. Se fossemos apenas falar de maneira formal, falaríamos este português. Inclusive, foi estranho quando pensei nos livros brasileiros dos anos 20, 30, e em como há cerca de 100 anos, o português era muito próximo do português daqui. Mudamos tanto nossa maneira de falar, nos distanciando de tal maneira, que criamos uma língua com variações únicas, principalmente em termos de regionalidades e “dialetos”.
Frequentemente é necessário comunicar-se em inglês com colegas intercambistas da União Europeia e alguns africanos. O domínio da língua inglesa dos portugueses é impressionante. Na primeira residência em que morei haviam 4 nigerianos que apenas falavam inglês comigo. Confesso que foi um pouco difícil entender o sotaque deles algumas vezes, mas foi uma grande oportunidade de melhorar minha comunicação e treinar o temido listening. Com os colegas europeus me comunico quase sempre em inglês, com um ou outro em espanhol. É sensacional a diferença de sotaques entre eles também. O leste europeu puxa o “R”, os ibéricos falam parecido com nós, os balcãs tem sotaque fortíssimo (complexo explicar), os alemães e belgas surpreendentemente parecem britânicos. É absurdo ter acesso a tantas culturas, eu sou fascinado por conversar com meus colegas sobre suas culturas e países.
Vou contar uma breve situação: eu estava indo para o meu prédio após o almoço e um grupo de garotas belgas estavam sentadas ao sol. Cumprimentei todas com um aperto de mão, e uma delas falou em tom de questionamento, “handshake?”, e respondi, “Is disrespectful?” me perguntando se seria melhor o clássico beijo na bochecha. Porém, ela entendeu “is this respectful?”, e ela disse “yes”. Eu fiquei totalmente envergonhado pensando que fiz algo errado e fui desrespeitoso com elas, até notar o detalhe e perguntar novamente mais devagar. Aí ela entendeu o que eu disse e reverteu para “no, it 's okay” falando que estava tudo bem. Enquanto isso eu parecia um pimentão. Por fim, assumi como padrão o beijo na bochecha por via das dúvidas.
Por falar nestas culturas e países, adquiri aqui amigos que com certeza quero manter contato. Meu grande pana Raúl, um espanhol muy buena onda que foi para Sevilha comigo e tem sido um grande colega, me acolheu muito bem. Espero visitá-lo na Espanha futuramente. Não posso deixar de citar também meus amigos da Georgia, Sandro e Irinka, com quem tenho conversado muito nos últimos tempos, principalmente pelo fato da cultura da Georgia ser totalmente diferente de tudo que encontramos aqui na Europa. A experiência de conhecer os estudantes do programa Erasmus (explicarei mais pra frente) é única, pois são pessoas de diversos lugares, principalmente da Europa, mas há muitos africanos também, da Nigéria, Camarões, Cabo Verde e etc.
Jamais poderia deixar de falar dos meus companheiros Brasileiros: minha querida amiga Ana Beatriz, que deixa nossa estadia muito mais divertida com seu jeito carismático, tem sido uma parceira incrível para mim a todo momento e é definitivamente uma melhor amiga que esse intercâmbio me deu, além de ser, claramente, uma pesquisadora de primeira. O nosso designer Lucas, que foi meu companheiro de quarto por um mês, é meu mano para todas as conversas sobre nossas impressões de Portugal e, também, inesperadamente meu companheiro de projeto por tabela. A Maria, que trabalha no mesmo departamento que eu, é uma parceira de primeira para organizar planos, além de, claro, trabalhar muito: tenho admirado muito o trabalho que ela tem feito no projeto, é uma excelente profissional e tem sido um exemplo para nós como pessoa e como representante da instituição. E, por penúltimo, meu super ultra mega brother Victor, um cara simplesmente sensacional, extremamente inteligente e esforçado, um cara humilde e absurdamente competente. Tenho acompanhado de perto o projeto dele e tenho ficado de cara com o que ele e Ana têm feito no projeto. Tenho ele como exemplo de pessoa e amigo, levo pra vida. E por fim, mas não menos importante, não posso deixar de falar do nosso querido Buddy Pedro, que foi comigo para Espanha e, desde que ainda estávamos no Brasil, foi um cara crucial, sempre solícito e parceiro. Não poderíamos querer um Buddy melhor: gostaria de citar que o Pedro faz parte do edital de dupla titulação, então temos mais um porta-voz do IFSC aqui.
Detalhe: a maioria dos intercambistas da UE vem por meio do programa de mobilidade que há em todas as universidades Europeias, chamado ERASMUS+.
A cultura de Portugal foi muito simples de absorver e adaptar, pois é muito próxima da nossa em Florianópolis. Mas existem algumas peculiaridades interessantes: os horários de funcionamento das coisas são peculiares, cada coisa tem um horário diferente, às vezes muito curtos. A língua é totalmente compreensível, porém, o Português de Portugal é a versão exclusivamente formal do nosso, o que torna às vezes a conversa cômica, pois se vê jovens falando como se falava antigamente no Brasil. Posso citar a arquitetura em especial também, quase TODO o chão da cidade é feito de mosaico Português, o que me intriga. Isso deve ter dado muito trabalho para fazer na cidade inteira. O fato de que pelo menos 90% das construções tem mais de 300 anos é absurdo! Basicamente a cidade inteira é feita de prédios residenciais, as casas são minoria, e em alguns prédios abandonados é possível ver os blocos antiquíssimos. Uma coisa que também chama a atenção são as placas nas ruas, que tem os nomes de quem viveu ali.
O meu projeto, chamado “Cálculo da emissão de carbono do campus da instituição”, consiste em um processo simples, porém trabalhoso: levantamento de dados sobre a instituição e pesquisa de metodologias. Assim, se produz um relatório com valores e considerações sobre todo o espaço físico da instituição e, por consequência, o impacto na sua comunidade também. Tive que ler muita documentação e artigos sobre cálculos de emissão de carbono, protocolos nacionais e internacionais, além de contar com a ajuda das minhas professoras para adquirir dados sobre a instituição. Minha pesquisa exige muita busca e documentação para fundamentar as ações e o processo como um todo. O meu projeto é uma produção de dados para uma iniciativa chamada Healthy Campus (na qual trabalho diretamente com meu colega Lucas) que auxilia o politécnico a integrar saúde em todos os aspectos da cultura do câmpus e fornecer soluções para melhorar o estilo de vida e o bem-estar da comunidade do câmpus. Quero fazer um agradecimento especial às minhas professoras orientadoras daqui, a professora Anabela Durão e Ana Cristina pardal, que trabalham ao meu lado e tem me auxiliado na pesquisa em tudo que precisei, além, também, do meu professor Leandro Schwarz que tem acompanhado de perto meu desenvolvimento e tem sido solícito em todo o processo.
A experiência de pesquisador e intercambista é única na nossa vida profissional e acadêmica. Estar em contato com a produção de conhecimento sob outra ótica, com as metodologias e com a comunidade, abre a mente em vários sentidos. Adquiri muito conhecimento na parte de legislação ambiental, métodos de pesquisa e organização de atividades, além da exposição ao Inglês e ao Espanhol diariamente, o que deu um belo up no meu speaking e listening de ambas. Essa experiência está sendo um divisor de águas na minha vida acadêmica, hoje acredito muito mais na minha capacidade de fazer as coisas virarem realidade, algo que antes, desse intercâmbio é minha prova pessoal de que as oportunidades que aproveitamos podem mudar tudo.
Sobre minha rotina aqui, no primeiro mês eu morava num alojamento da faculdade, que conseguimos aplicar no sistema da faculdade quando ainda estávamos no Brasil. Esse processo foi auxiliado pelo nosso Buddy Pedro. Eu dividia quarto com meu colega Lucas mas, por um infortúnio na estrutura da residência, ela foi fechada, e então eu, Lucas e Pedro tivemos que nos mudar. Eu e Lucas alugamos algo, e Pedro foi realocado para outra residência. O lado positivo é que eu vim morar mais perto da universidade, mais precisamente na mesma rua. Minha boa relação com os colegas de Erasmus me ajudou a conseguir essa nova residência: vim morar num apartamento com um colega da Eslováquia, chamado Adam, e um da Alemanha, chamado Dominik, e isso tem sido excelente para minha prática do inglês.
Minha rotina inclui afazeres domésticos e trabalhar no gabinete da professora Anabela pela manhã e pela tarde, cinco horas diariamente pelos dias de semana. Aos finais de tarde às vezes saio com amigos e meus colegas brasileiros. Já aos finais de semana saímos, vamos ao parque, passeamos ou nos reunimos na casa de alguém.
Ainda falando em rotina, eu gosto bastante de cozinhar, então faço todas as minhas refeições em casa. Costumamos dizer que ir ao mercado é um passeio, por que sempre descobrimos novos produtos e, para mim, é legal descobrir os produtos locais. O vinho aqui é muito barato, pois há produção regional para o país inteiro, temos também o famoso pastel de Belém que é muito comum, e as bifanas.
Bom, posso citar também o apoio crucial da minha família, que desde a primeira vez que me apliquei para o edital do propicie, me apoiou. Eles ficaram muito orgulhosos da minha conquista. Para mim, tem sido um momento único, é a minha primeira experiência fora, organizando tudo sozinho, morando longe de tudo e todos. Eu diria que o apoio e união entre colegas foi essencial para nossa adaptação aqui, pois a família que deixamos no Brasil, formamos juntos aqui. Estou frequentemente em contato com familiares também, sempre contando minhas experiências, além dos meus amigos, que estão sempre perguntando como são as coisas e etc., tenho certeza que já converti uns 4 fãs para a AREXI e para o Propicie.
Por fim, para quem pretende fazer um intercâmbio: não pensem muito, vivam isso com os próprios olhos, não hesitem em agarrar todas as oportunidades que puderem. Se esforcem e estejam sempre preparados para aproveitar quando a chance aparecer. Sou muito grato ao IFSC por estar me proporcionando essa oportunidade, à minha família pelo apoio, aos professores que estão fazendo parte da minha trajetória acadêmica, e aos que estão comigo: os colegas que, assim como eu, estão vivendo uma experiência única.