BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 22 jul 2025 08:30 Data de Atualização: 22 jul 2025 08:30
Nessas últimas semanas no Blog dos Intercambistas temos postado os relatos dos estudantes que participaram do 23º Propicie, o programa de intercâmbio do IFSC, em Portugal, na cidade de Beja. Em todas essas narrativas sobre a viagem vemos algo em comum: a união para enfrentar os desafios do intercâmbio e aproveitar ao máximo essa experiência!
O relato do Lucas Roberto Lausus, estudante do curso de bacharelado em Design do Câmpus Florianópolis, é mais um exemplo disso. Também participante do Propicie, o Lucas fez parte de um projeto no Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), e contou para nós como foi desenvolver esse projeto e também como foi morar fora, experimentar novas culinárias e se comunicar em outros idiomas.
Veja o relato do Lucas:
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O intercâmbio foi, sem dúvida, uma experiência marcante para mim, com descobertas que se estenderam muito além do campo acadêmico. Ao longo dos três meses que passei em Portugal, percebi que o aprendizado se dava de forma constante — nas conversas cotidianas, nos ajustes de rotina, nas diferenças culturais e até nas pausas que o dia impunha. Estar fora do país te obriga a observar mais e falar menos, a escutar o que normalmente passaria despercebido.
A convivência com os colegas brasileiros foi essencial nesse processo, não apenas pelo apoio mútuo, mas pelo vínculo que se construiu a partir da convivência intensa. A distância de casa e o desconhecido em comum nos aproximaram de um jeito que dificilmente teria acontecido em outra situação. Ao mesmo tempo, criamos amizades com estudantes de diversas partes da Europa, como Rússia, Eslováquia e Alemanha, e foi no meio dessas trocas que percebi o quanto a pluralidade de visões, hábitos e valores pode ampliar a nossa forma de enxergar o mundo, mesmo quando há barreiras linguísticas ou diferenças marcantes no jeito de viver.
A exigência de transitar entre idiomas foi constante: em um único dia, era comum começar uma conversa em português, passar para o inglês e, em seguida, improvisar um espanhol. Isso exigia atenção, paciência e uma boa dose de flexibilidade mental. Hoje, de volta ao Brasil, percebo com mais clareza o quanto meu inglês evoluiu — não só tecnicamente, mas na fluência real, aquela de conseguir entender, pensar e responder com naturalidade, inclusive assistindo a conteúdos sem legenda, o que antes não era tão fácil.
Outro ponto curioso foi o ritmo da cidade. Beja tem um tempo próprio, mais lento e silencioso, típico de cidades do interior. A pausa para o almoço, por exemplo, dura horas, e muita coisa só volta a funcionar no meio da tarde. Para quem está acostumado à correria das grandes cidades, essa pausa parece estranha no começo, mas com o tempo, começa a fazer sentido — é uma outra lógica de funcionamento, mais voltada à convivência e ao tempo pessoal.
No projeto Healthy Campus, iniciativa da União Europeia focada em sustentabilidade nas instituições de ensino, atuei especificamente na área de comunicação. O IPBeja, onde fiquei, já possuía o selo máximo de certificação, o que demonstra seu comprometimento com os critérios da iniciativa. No entanto, mesmo com esse reconhecimento, o projeto era pouco conhecido dentro do próprio campus, a comunicação era praticamente inexistente, e meu papel foi justamente criar uma estrutura mínima para que as pessoas pudessem entender o que era o projeto, por que ele existia e como se conectava com a rotina delas. Trabalhei na construção de uma identidade visual, na padronização dos canais e na produção de conteúdos acessíveis, tudo isso em um ambiente onde o design ainda não era uma linguagem comum, o que exigiu adaptações, escuta ativa e muita clareza na hora de apresentar cada ideia.
Durante parte do intercâmbio, dividi uma casa com uma portuguesa e uma francesa, o que transformou até a vida doméstica em um exercício de adaptação. O inglês era o idioma em comum, então até as tarefas mais simples exigiam atenção na comunicação. As diferenças culturais eram evidentes — desde os horários até o modo de lidar com a limpeza, o barulho ou a alimentação —, mas, com o tempo, tudo foi se ajustando, mais do que compartilhar um espaço, foi sobre aprender a respeitar e encontrar equilíbrio entre rotinas tão distintas.
A comida, por sua vez, foi uma das adaptações mais visíveis, a culinária portuguesa é menos temperada que a brasileira, com muitos pratos cozidos e pouco uso de carne bovina. Como gaúcho, senti falta do churrasco, claro, mas acabei descobrindo sabores que me surpreenderam, como a carne de “porco preto”. As sopas, por exemplo, estão sempre presentes, quase como um ritual antes de qualquer refeição, e a variedade de pães disponíveis em qualquer lugar era algo que eu realmente não esperava.
Sobre a saudade, ela apareceu em momentos diferentes. Por já morar sozinho em Florianópolis, a ausência da família não era exatamente nova, mas estar em outro país muda a sensação de distância — ela deixa de ser uma questão de tempo e vira uma questão de geografia.
Ainda assim, talvez o mais interessante tenha sido observar como cada um lidava com isso. Alguns dos meus colegas estavam saindo de casa pela primeira vez e sentiram a falta da família de forma mais intensa. Acabei sendo uma espécie de apoio em alguns momentos, e isso também fez parte da vivência — perceber que o intercâmbio não é só individual, ele é coletivo, e a forma como nos ajudamos também ensina bastante.
Voltar ao Brasil, depois de tudo isso, foi trazer na bagagem muito mais do que documentos ou registros acadêmicos: foram três meses vivendo um cotidiano diferente, tentando entender realidades novas, encontrando formas de contribuir com aquilo que sei fazer e descobrindo, no processo, novos jeitos de me posicionar. O intercâmbio me ensinou, acima de tudo, a lidar com o novo — não como um obstáculo, mas como oportunidade de escuta, adaptação e crescimento.