JIFSC Data de Publicação: 15 nov 2024 11:33 Data de Atualização: 19 nov 2024 13:54
Este ano o responsável por levar a bandeira do Câmpus Itajaí no desfile dos Jogos do IFSC, realizados de 29 de outubro a 3 de novembro, foi o estudante do técnico integrado em Mecânica Arthur Alves Ramos. Ele participou dos jogos como atleta anjo no apoio da delegação. Arthur tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e gosta muito de correr. “Essa é a minha primeira vez nos jogos, eu sou de Blumenau, mas moro em Itapema. Eu fiquei muito feliz em vir, achei todos muito educados, todo mundo brincando. Em um momento, eu já estava gritando Jaraguá do Sul e a torcida deles me respondia com Itajaí.”
Arthur foi acompanhado da psicopedagoga Priscila de Freitas Dias e dos professores de Educação Física do Câmpus Itajaí. “Na seletiva dos reginais do JIFSC, o Arthur ficou muito triste com a derrota dos amigos e nós percebemos que seria importante trazê-lo para os jogos para que ele tivesse uma outra percepção do evento. Desde 2023, nós, enquanto membros da comissão organizadora do JIFSC, estamos pensando em um Parajifsc”, afirma a professora de Educação Física do Câmpus Itajaí Denise Jove César.
Ela explica que, em um primeiro momento, a proposta seria começar com modalidades individuais como xadrez, tênis de mesa e atletismo. “Em modalidades coletivas, nós teríamos mais dificuldades porque por exemplo no basquete com cadeira de rodas nós precisaríamos de cinco atletas em cada time e no caso do futebol para cegos nós precisaríamos de uma nova estrutura que fosse acolchoada. Mas no atletismo poderíamos fazer uma série diferente usando uma classificação funcional um pouco mais simples. No caso do Arthur, ele até poderia correr com os demais, mas a premiação dele precisaria ser diferente. Eu entendo também que no caso de um Parajifsc precisaríamos prever um staff que possa acompanhar esses atletas, principalmente, se eles forem ficar alojados. O Arthur só tem vindo passar o dia, à noite ele fica com a família.”
Assim como Arthur, o estudante do técnico integrado em Telecomunicações do Câmpus São José Nicolas Henrique Manoel, que é cadeirante, também só veio para assistir e para ajudar a treinar a equipe de atletismo. Ele é paratleta profissional, compete no lançamento de dardo, de disco e no arremesso de peso e já participou das Paralimpíadas Escolares de Santa Catarina e do Meeting que classificava para o brasileiro de paratletismo. Essa foi a segunda vez que ele foi para o JIFSC e mesmo estando nos Jogos apenas para assistir, ele encontrou dificuldades para se locomover pelo espaço. “No meu caso aqui onde os jogos são realizados, se eu preciso ir para o segundo andar eu sou obrigado a sair do ginásio e dar a volta pelo prédio pelo lado de fora para conseguir chegar lá, porque não há elevador.”
O professor de Educação Física do Câmpus São José Anderson Honorato explica que as discussões para seletivas para estudantes PCDs já vêm sendo feitas em âmbito nacional e que a expectativa é que a edição dos Jogos Nacionais dos Institutos Federais, o JIF Nacional, de 2025 já tenha modalidades para paratletas. “A pista em que foi realizada as provas de atletismo do JIFSC em Timbó, o Nicolas já havia competido lá e a conhecia muito bem, mas só atuou no apoio, não competiu e ele teria muito a contribuir. No JIFSC do ano passado, já existia essa discussão na comissão organizadora e nós resolvemos colocar na abertura um jogo de vôlei sentado promovida pela Associação de Paradesporto de Blumenau.”
O coordenador geral do JIFSC, Mozart Maragno, explica que a proposta de um Parajifsc exige a organização de um evento dentro de outro. “Há uma discussão nacional sobre a organização de seletivas para PCDs e nós vamos precisar nos adaptar. Teremos que ouvir os estudantes e entender as necessidades deles. Entendemos que essa discussão precisa passar pelo Colégio de Dirigentes (Codir).”
O professor de História do Câmpus Florianópolis Viegas Fernandes da Costa é PCD e acha muito importante que esta discussão esteja sendo pautada no IFSC. “Eu fui representante dos docentes no Colegiado de Ensino, Pesqusia e Extensão (Cepe) do IFSC e eu lembro que uma das últimas reuniões que eu participei eu problematizei o fato de não haver uma política de desportes no IFSC que visasse as pessoas com deficiência. Eu problematizo o conceito de paraolimpíada porque entendo que quando você cria uma nova nomenclatura e modalidades e competições paralelas você continua de algum modo segregando as pessoas. Já há atividades esportivas que fazem categorizações, por exemplo, tem basquete masculino e feminino como uma tentativa de separar corpos diferentes. No caso do judô, além da categoria de feminino e masculino outro fator que separa os corpos é o peso. O que eu quero dizer que há modalidades esportivas que respeitam as características de cada corpo. Eu entendo que as modalidades com estudantes PCDs devam ser uma modalidade dentro das competições e não um evento paralelo. Se a gente conseguir fazer isso dentro dos institutos federais seria um modelo.”
Viegas considera que é preciso promover espaços de convivência. “Eu entendo que os movimentos que a instituição precisa fazer são no sentido de dar visibilidade para PCDs e promover espaços onde eles possam explorar suas potencialidades, inclusive no esporte. Nós não podemos institucionalizar a segregação, por isso, considero importante questionar esses conceitos que são usados. As modalidades que hoje são vistas como paraolimpícas precisam ser vistas apenas como modalidades diferentes. Há uma grande diversidade de corpos de pessoas com deficiência e esse é um universo extremamente plural. Mas é importante lembrar que não há corpos padronizados mesmo entre as pessoas sem deficiência. Precisamos pensar na prática cotidiana das aulas de educação física, inclusive pensando em fazer com que pessoas sem deficiência experimentem modalidades esportivas que são para PCDs.”
A professora de Educação Física do Câmpus Palhoça Bilíngue Carmem Beck explica que um dos critérios que precisarão ser revistos caso hajam modalidades para PCDs é a questão de idade. “Quando pegamos estudantes PCDs ou mesmo surdos grande parte deles não está na faixa etária exigida nessas competições. Precisaríamos adotar como critério estar apenas matriculado em um curso técnico integrado.”
Na delegação do Câmpus Palhoça-Bilíngue que participou do JIFSC deste ano, 18 estudantes são surdos. “Muitos estudantes participaram do atletismo e fizemos algumas adaptações na arbitragem. Na largada das corridas, o árbitro ficava na raia do aluno surdo e o tiro de saída precisava ser visualizado pelo aluno surdo. Eles também participaram do futsal e ano que vem querem que a modalidade para o jogo dos estudantes surdos seja o voleibol. Eles gostam muito de participar do JIFSC e percebem que a presença deles desperta o interesse e até mesmo a curiosidade de estudantes de outros câmpus em aprender a Língua Brasileira de Sinais e estabalecer a comunicação. Quanto mais pessoas ouvintes utilizem a Libras para se comunicar, maior será a inserção social da pessoa surda.”
A professora explica que os surdos não costumam participar de competições de paradesportos. “No Câmpus Palhoça Bilíngue nós consideramos o surdo como uma minoria linguística, ou seja, partimos de uma perspectiva socioantropológica. Se a gente torna o mundo acessível a partir da comunicação para os surdos, ela não é limitante, e sim uma questão linguística. A pessoa que tem apenas a surdez não tem limitação motora que o impeça de praticar qualquer esporte. A modalidade precisa apenas estar adaptada para a sua característica visual e para a Língua Brasileira de Sinais.”
Carmem avalia importante que sejam feitas mudanças nas competições regionais e a nacional dos institutos federais inclusive para a maior participação de estudantes surdos. “Quando os estudantes surdos do Câmpus Palhoça Bilíngue começaram a vir para o JIFSC, eles imaginavam que jogariam com outros estudantes surdos de outros câmpus, o que não acontece, porque a gente percebe que a maior parte dos estudantes surdos já estudam no câmpus em Palhoça. Nesse sentido, seria muito importante que o Jifsul e mesmo nos Jogos Nacionais tivessem estudantes surdos para conseguir promover uma troca entre seus pares.”