PESQUISA Data de Publicação: 25 jul 2024 20:39 Data de Atualização: 30 jul 2024 12:08
Um projeto de pesquisa do Câmpus Lages do IFSC está buscando conhecer melhor formas de proteger uma fruta que muita gente não conhece: o physalis. "Estudo anatômico, fisiológico e metabólico de plantas de fisális infectada com o vírus physalis rugose mosaic virus (PhyRMV)", coordenado pela professora Giselle Camargo Mendes, da área de Ambiente e Saúde do IFSC Lages, foi contemplado no Edital 02/2023/PROPPI e é realizado em parceria com o Laboratório de Virologia Vegetal da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) coordenado pelo professor Fábio Nascimento da Silva.
A professora, que também é Coordenadora de Pesquisa do Câmpus Lages, explica que o projeto tem o objetivo de entender as respostas fisiológicas e metabólicas das plantas de Physalis diante da infecção pelo vírus physalis rugose mosaic virus (PhyRMV). "O PhyRMV é a principal espécie viral associada à cultura do fisális (Physalis peruviana L.) e estudo biológico experimental foi verificado que este vírus pode infectar o tomate, importante cultura no Estado de Santa Catarina. Assim, é importante o conhecimento dos mecanismos metabólicos da interação do vírus com o hospedeiro, ainda amplamente desconhecidos no patossistema supracitado. As infecções causadas por vírus são um sério problema, visto que o controle é essencialmente preventivo", explica a professora. O physalis é da mesma família biológica do tomate e do pimentão.
O projeto tem o envolvimento de duas bolsistas de Iniciação Científica do curso de Engenharia Química do IFSC e um aluno de mestrado em Produção Vegetal da UDESC. A docente conta que aumentar o conhecimento das bases metabólicas da interação entre a planta e o vírus permitirá mitigar os efeitos negativos desta interação e representa um dos maiores desafios para a agricultura brasileira. "O projeto de pesquisa está em execução e terá sua continuidade na Instituição. Adicionalmente, com o intuito de avançar os estudos da interação molecular entre o vírus e o hospedeiro, contaremos com uma parceria do Laboratório de Interação Molecular Planta Patógeno na Universidade de Michigan nos Estados Unidos, coordenado pelos pesquisadores Ping He e Libo Shan, o qual será utilizado plantas modelo", complementa a professora.
Uma das bolsistas, por parte do IFSC, é Jheniffer Rodolfi Bianchini, estudante da 7ª fase do curso superior de Engenharia Química. Ela conta que o desejo pelo projeto surgiu a partir de seus interesses acadêmicos e das oportunidades que o IFSC pode oferecer. "Sempre pensei, a partir do meu ensino médio. Tive um ensino médio integrado, onde eu fiz um técnico em biotecnologia e conheci mais da área da pesquisa e descobri que eu gostaria de realizar uma pós-graduação stricto sensu, realizar um mestrado, um doutorado", conta a estudante. Ela iniciou uma graduação anteriormente, em outra instituição, que não lhe permitiria realizar esse desejo. "A gente sabe que mestrados e doutorados necessitam algumas pontuações, onde eu não teria na minha primeira instituição de ensino. Por um interesse maior em biologia molecular e bioquímica, justamente pela minha área de atuação ser mais voltada à saúde e por querer trabalhar em uma linha de pesquisa de novos biofármacos antineoplásicos, escolhi a Engenharia Química", complementa a aluna.
A aluna conta que a participação no projeto lhe trouxe diversos benefícios e que, por vezes, alguns estudantes não aproveitam oportunidades similares por achar que elas não se encaixam na atividade-fim do curso. "Mas, olhando de dentro, nossa aprendizagem diária contempla a visualização de todos os processos. São muitos reagentes químicos, às vezes nós pegamos no laboratório e estamos pensando em como aquela substância está reagindo, como aquele químico está se relacionando com os demais, o que ele está quebrando, qual interação molecular ele está fazendo para realizar aquela quebra e assim criar aquele gel, aquela mistura", completa a aluna, destacando os aspectos transversais que a participação em um projeto de pesquisa podem trazer.
A estudante reforça a importância da participação de um projeto para além do convencional, seja aquilo que é visto em laboratório ou aquilo que é conversado com os professoras e outros bolsistas do projeto. Também, ela indica uma aproximação do aluno com a instituição que dá resultados práticos no combate à evasão. "Há um grande fortalecimento dos laços com a instituição, é importantíssimo e é nítido, principalmente nós que não estamos necessariamente no Instituto Federal, pois ficamos em parceria ali no CAV (Udesc). Conhecemos nossos colegas e outros alunos, fazendo um networking muito grande. Você conhece muitas pessoas diferentes, pessoas que estão indo fazer mestrado e doutorado, até aqueles que vão para fora do país", destaca ela, reforçando a parceria do IFSC com a Udesc neste projeto.
A estudante acrescenta que já possuía alguma experiência, seja da graduação anterior ou de estágios realizados. Mas que sua proximidade com a professora Gisele gerou grande identificação e gratificação. "Dentro da iniciação científica com a professora Gisele eu pude descobrir inúmeras técnicas da biologia molecular de uma forma muito dinâmica, muito prática. Então, essas habilidades são muito perceptíveis o quanto a gente vai desenvolvendo, principalmente autonomia dentro do laboratório. Antes eu não faria, como por exemplo, um teste PCR ou algumas técnicas biomoleculares sozinhas, e hoje eu já consigo fazê-las", complementa a estudante, destacando o caráter incentivador da autonomia do aluno criada num projeto de pesquisa como este.
A outra bolsista do projeto é Naomi Borges Felisberto, também da 5ª fase do curso superior de Engenharia Química. Ela e a professora já fazem "tabelinha" na pesquisa tem um tempo, e isso a fez iniciar em mais desafio dentro de seu curso. "Já faz cerca de dois anos que faço parte dos projetos de pesquisa coordenados pela professora Gisele. Desde então, a cada novo projeto elaborado, tem aumentado o meu interesse pela área de fisiologia vegetal", disse a estudante. Ela também destaca as habilidades transversais desenvolvidas ao longo de sua execução como sendo de grande importância. "Juntamente com os outros bolsistas, participo de todas as etapas de elaboração do projeto, desde o plantio até a avaliação dos resultados. Avalio minha participação no desenvolvimento como proveitosa, pois sempre estou em busca de novos aprendizados e o projeto me proporciona isso. Além do aprendizado em uma nova área, desenvolvo habilidades em práticas laboratoriais, na comunicação, por meio de apresentações, em resoluções de problemas e habilidades interpessoais", complementa a acadêmica.
O curso de bacharelado em Engenharia Química forma profissionais para atuação no desenvolvimento de processos para a produção de produtos diversos, em escala industrial, nas áreas de alimentos, cosméticos, fertilizantes, fármacos, cimento, papel e celulose, nuclear, tintas e vernizes, polímeros, meio ambiente, entre outras. O engenheiro químico projeta, supervisiona, elabora e coordena processos industriais; identifica, formula e resolve problemas de engenharia relacionados à indústria química; supervisiona a manutenção e operação de sistemas. Além disso, desenvolve tecnologias limpas, processos de reciclagem e de aproveitamento dos resíduos da indústria química que contribuem para a redução do impacto ambiental. Coordena e supervisiona equipes de trabalho, realiza estudos de viabilidade técnico-econômica, executa e fiscaliza obras e serviços técnicos e efetua vistorias, perícias e avaliações, emitindo laudos e pareceres técnicos. O curso tem duração de 10 semestres e é ofertado no período matutino. Naomi avalia positivamente mais essa oportunidade. "Com a participação em projetos de pesquisa temos a oportunidade de aplicar na prática os conhecimentos passados em sala de aula, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem e no desenvolvimento acadêmico", finaliza.
Resultados
A professora conta que a proposta deste projeto foi aprovada em uma chamada pública da Fundação de Amparo à Pesquisa de Santa Catarina (FAPESC) e o recurso será destinado para a realização de uma missão científica na Universidade de Michigan, que acontecerá no próximo mês, a fim de representar a Instituição e estabelecer a parceria para execução deste projeto. "Os conhecimentos adquiridos com o estudo de plantas modelo poderão ser aplicados biotecnologicamente em grandes culturas com o intuito de gerar cultivares resistentes aos estresses bióticos e além de produção de mudas livres de infecção. Os resultados do projeto auxiliarão os produtores na seleção de material vegetal saudável a fim de garantir uma produção saudável e sustentável", complementa a professora.