IFSC discute consolidação das ações afirmativas como política

EVENTOS Data de Publicação: 26 jun 2025 10:03 Data de Atualização: 07 jul 2025 14:41

“Ações afirmativas no Brasil são um projeto sem volta.” Essa foi a avaliação da professora Joana Célia dos Passos, referência nacional no tema e atual vice-reitora da UFSC, durante a conferência de abertura do Seminário de Ações Afirmativas do IFSC, realizado nesta quarta-feira (25). O evento, que segue até esta quinta-feira (26), reúne cerca de 100 servidores do IFSC que atuam nas comissões de heteroidentificação, análise de renda, na Comissão Central de Verificação da Condição de Deficiência e na Reitoria. O objetivo é debater os avanços, desafios e perspectivas das políticas de acesso, permanência e inclusão da instituição.

Para a dirigente da UFSC, as ações afirmativas são uma conquista coletiva e continuam porque seus sujeitos beneficiários hoje ocupam novos espaços. “Eles defendem essa política e seguem exigindo seus direitos”, explicou.

Joana foi enfática ao afirmar que a política de ações afirmativas é uma política de Estado, e não apenas de gestão. “Ela não pode depender apenas da boa vontade de quem está no cargo”, alertou. Para garantir sua continuidade, destacou a importância de projetos institucionais sólidos e do trabalho de quem atua diretamente na implementação dessas políticas. “Esse seminário que vocês estão fazendo aqui hoje é exemplo disso, pois mostra que há um compromisso coletivo com a manutenção, o aperfeiçoamento e o avanço das ações afirmativas”, salientou.

Segundo a professora, as ações afirmativas representam a maior política de democratização das instituições federais. “Hoje, 50% do nosso público é de ações afirmativas. Não se trata de abrir vaga — trata-se de reparar mais de 300 anos de exclusão”, pontuou.  “A política de ação afirmativa não é só um marcador que marca dor, ela afirma identidade e pertencimento”, completou.

Joana também fez abordou a legislação sobre cotas, apresentou dados sobre o impacto dessas políticas no perfil estudantil das universidades federais e compartilhou experiências da UFSC, como os concursos específicos para docentes indígenas, a criação de uma pró-reitoria dedicada às ações afirmativas, além da aprovação de políticas voltadas a refugiados e pessoas trans.

 

 

Ações afirmativas no IFSC

Durante a cerimônia de abertura, o diretor de Assuntos Estudantis, Evandro Belmiro da Silva, apresentou uma linha do tempo das ações afirmativas na instituição, desde as primeiras iniciativas no antigo CEFET-SC até os dias atuais. Ele destacou o surgimento do Plano de Inclusão, o Programa de Atendimento ao Estudante em Situação de Vulnerabilidade Social (PAEVS), as comissões de análise de renda e de heteroidentificação, além da criação da Coordenadoria de Ações Inclusivas, da Coordenadoria de Juventudes e Diversidades, do Comitê Permanente de Direitos Humanos, dos NEABIs e das coordenadorias dos núcleos de acessibilidade educacional.

Saiba mais sobre o que vem sendo feito no IFSC na página de Ações Inclusivas

“O que fica para este evento é a importância de consolidarmos essas iniciativas, mas também pensarmos daqui em diante”, destacou. “Que o IFSC possa avançar na consolidação dessas ações afirmativas, para o acesso e também para a permanência de pessoas pertencentes a grupos minoritários”, completou.

O pró-reitor de Ensino, Adriano Larentes, reforçou o papel do IFSC no enfrentamento das desigualdades. “Somos uma instituição que a gente sabe que tem uma dívida histórica com inúmeros grupos minimizados, mas que, ao mesmo tempo, tem uma capacidade enorme de transformar a vida de tantas pessoas”, afirmou. “Mais de 41 mil estudantes, neste momento, estão matriculados na instituição, e dependem das nossas ações para que a gente possa avançar e, quem sabe, abrir campos de possibilidades muito diversos”, completou.

Adriano também lembrou iniciativas mais recentes, como a criação do Departamento de Educação de Jovens e Adultos, da Coordenadoria de Suporte à Permanência e Êxito e do Edital de Equidade, já em sua terceira edição. “Este seminário nasce da constatação de que a gente precisa estar junto para pensar e organizar melhor os fluxos relacionados às cotas. Há pautas que precisam ser encaminhadas, e a gente precisa avançar muito, coletivamente. É coletivamente que vamos encontrar saída para os desafios”, ressaltou.

Entenda o Sistema de Cotas no IFSC

Encerrando a abertura, o reitor Mauricio Gariba Júnior reiterou o compromisso institucional com as ações afirmativas. “Fazemos isso com seriedade porque compreendemos que cotas raciais e ações afirmativas não são favores, são parte do caminho para a democratização real do acesso, da permanência e do êxito na educação pública federal”, afirmou.

O que mudou no Sistema de Cotas? Entenda neste post do Blog do IFSC

Abertura cultural com luta antirracista

O Seminário de Ações Afirmativas do IFSC foi aberto com a apresentação da peça Não corre, menino! Voa!, da Cia Nosso Olhar, de Florianópolis. O monólogo narra a história de Eduardo da Silva Santos, menino negro e periférico de 11 anos, vítima de uma bala perdida, e propõe uma reflexão contundente sobre o racismo estrutural e a violência policial nas periferias brasileiras.

A obra denuncia o extermínio da juventude negra no Brasil e emocionou os participantes do evento ao transformar dor em resistência, memória e arte. A apresentação reforçou a centralidade da pauta antirracista no evento, conectando a linguagem artística ao compromisso institucional com a promoção da equidade e dos direitos humanos.

Como podemos tornar o IFSC um lugar mais acolhedor

Resgate das ações afirmativas no IFSC

Confira abaixo alguns marcos institucionais das ações afirmativas no IFSC que foram apresentados na abertura do seminário:

Anos 2000 – Início das discussões e mobilização interna

  • Projeto Nivelamento (Câmpus São José): iniciativa voltada à preparação de estudantes da rede pública para o ingresso em cursos técnicos.
  • 2006: Seminário sobre formas de ingresso no antigo CEFET-SC, com análise do perfil socioeconômico e étnico-racial dos candidatos.
  • 2007: Criação do Grupo de Trabalho Ações Afirmativas, com proposições para reserva de vagas com recorte étnico-racial e social.
  • 2007: Participação ativa no Seminário de Expansão e Democratização da Rede Federal — evento apontado como marco estratégico para debates sobre acesso.
  • 2008–2009 – Consolidação como política institucional
  • 2008: Aprovação das diretrizes para políticas de inclusão no processo de ingresso.
  • 2009: Implementação de ações afirmativas no vestibular de licenciatura, destinando 60% das vagas para candidatos negros e de escolas públicas.
  • 2009 a 2013: Criação do Plano de Inclusão, que expandiu o debate para além do ingresso, incluindo: Permanência e êxito, Reconhecimento das diferenças, Inserção sócio-profissional e valorização da diversidade como pauta institucional
  • 2010: Institucionalização da Assistência Estudantil como política interna.

2010 em diante – Estruturação e ampliação

  • Criação do Paevs: Programa de Atendimento ao Estudante em Situação de Vulnerabilidade Social;
  • Implementação de cotas para cursos técnicos e de graduação, incluindo: pessoas de baixa renda; Ppretos, pardos, indígenas e quilombolas; pessoas com deficiência;
  • Constituição de comissões: Análise de renda, Heteroidentificação, Verificação de condição de deficiência;
  • Criação de estruturas de apoio: Coordenadoria de Ações Inclusivas, Coordenadoria de Juventudes e Diversidades, Núcleos NEABIs (Afro-brasileiros e Indígenas), Núcleos de Acessibilidade Educacional, Comitê Permanente de Direitos Humanos.

A partir de 2021 – Política como projeto institucional

  • Criação de: Departamento de Educação de Jovens e Adultos, Coordenadoria de Suporte à Permanência e Êxito, Edital de Fomento às Ações de Equidade (2022–2024): financiamento de projetos voltados à inclusão de grupos vulnerabilizados.
  • Fortalecimento dos coletivos nos eventos institucionais, como o SEPEI, com protagonismo do coletivo negro.
  • Aprovação da especialização em Educação das Relações Étnico-Raciais, com sede no Câmpus São Miguel do Oeste.
  • Ampliação do público da educação especial e triplicação da equipe de apoio de atendimento entre 2021 e 2024.
  • Adaptação à nova Lei de Cotas (Lei 14.723/2023), com adequações técnicas e criação de fluxo específico de avaliação.
EVENTOS EVENTOS