SEPEI Data de Publicação: 29 ago 2025 11:47 Data de Atualização: 29 ago 2025 12:01
A mesa-redonda “Desafios e perspectivas para a educação de surdos no IFSC”, da qual participaram três professores do Câmpus Palhoça Bilíngue, foi uma aula sobre como funciona o câmpus, especializado na educação de surdos. O evento ocorreu durante o Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC (Sepei), no próprio Câmpus Palhoça Bilíngue, na última quinta-feira, 28 de agosto.
A professora de língua portuguesa Bruna Crescêncio Neves explicou que no Câmpus Palhoça Bilíngue o português é ensinado seguindo a metodologia de ensino de uma segunda língua (“L2”, no jargão técnico) para os surdos. Segundo ela, surdos têm total capacidade de escrever em língua portuguesa com fluência e as dificuldades que encontram no início do aprendizado assemelham-se às de estrangeiros que começam a estudar o português: a tendência inicial é de reproduzir a estrutura de sua língua materna. “Qualquer pessoa que esteja aprendendo uma nova língua passa por essas fases”, comentou.
O mesmo ocorre com pessoas ouvintes que começam a aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras), lembrou a professora. No início, elas têm a tendência de sinalizar (fazer os gestos da língua de sinais) seguindo a estrutura do português e, aos poucos, vão entendendo como funciona a Libras e ganhando fluência.
Já os estudantes ouvintes do Câmpus Palhoça Bilíngue aprendem a Libras desde o início do curso, pois ela faz parte de todos os currículos. Isso garante uma maior integração entre os alunos surdos e ouvintes, conforme relatou o professor Fabrício Mähler Ramos, que é surdo. Contando sua experiência de vida, ele disse que em outras instituições em que lecionou sempre teve apenas estudantes surdos, enquanto no IFSC, onde atua há 9 anos, ministra aula para surdos e ouvintes.
“Quando aprende a Libras, o ouvinte começa a entender que o surdo tem uma identidade, uma cultura. Os ouvintes que chegam ao câmpus [Palhoça Bilíngue] conhecem as questões culturais [dos surdos] e as respeitam”, afirmou. Fabrício leciona diversas disciplinas no câmpus, como as de Libras e de cultura e identidade surdas.
Como o Câmpus Palhoça Bilíngue tem professores e estudantes surdos e ouvintes, um profissional é imprescindível para garantir a comunicação entre eles nas salas de aula e em outros ambientes: o tradutor-intérprete de Libras-Português. A professora Silvana Nicoloso foi quem falou sobre esse trabalho na mesa-redonda, destacando que o objetivo do serviço de tradução e interpretação é garantir que surdos e ouvintes interajam de igual para igual.
Coordenadora do curso técnico integrado em Tradução e Interpretação de Libras-Português, Silvana explicou a diferença entre as duas atividades. A tradução envolve pelo menos um texto escrito e necessita de um tempo maior para ser executada - como quando um livro ou um vídeo são traduzidos para a Libras. Já a interpretação ocorre em tempo real, quando o profissional tem apenas um pequeno intervalo de tempo para fazer o processamento cognitivo e transmitir o que foi dito em Libras para o português e vice-versa.
A mesa-redonda foi um exemplo de interpretação, pois as falas dos três professores foram feitas em Libras e interpretadas em tempo real para o português pelos tradutores-intérpretes Cristiane Albano Marquetti, Priscila Paris Duarte e Victor Hugo Lima Nazário.
“Esse profissional [tradutor-intérprete] precisa entender a estrutura aprofundada das duas línguas. E não é somente a estrutura linguística: ele precisa conhecer a cultura que envolve as duas línguas e as competências de tradução e de interpretação para poder atuar com essas duas línguas”, ressaltou Silvana.
Já no final da mesa-redonda, a estudante surda Sarah Isadora de Andrade do curso técnico integrado em Serviços e Produtos Bilíngues (Libras-Português) do Câmpus Palhoça Bilíngue, deu um depoimento elogiando o trabalho do IFSC.
“Eu percebo que tem dois eixos aqui no câmpus, o da língua portuguesa e o da Libras, mas os dois se complementam e se conectam. Eu antes tinha muito receio em estar junto com as pessoas ouvintes e aqui isso foi se quebrando. (Eu consigo me comunicar, eu consigo circular junto aos ouvintes. A gente sabe que num primeiro momento tem essa dificuldade da comunicação, mas hoje nós temos interações muito ricas aqui e pretendo continuar estudando no curso, estudando aqui no câmpus junto com pessoas ouvintes que conhecem a Libras. Então, eu tô gostando muito dessa experiência aqui”, declarou. Sarah tem 21 anos e mudou-se do Rio Grande do Sul para poder estudar no Câmpus Palhoça Bilíngue.
A gravação da mesa-redonda na íntegra está disponível no canal do IFSC no YouTube.