Mesa-redonda no Sepei discute caminhos para uma sociedade mais inclusiva

SEPEI Data de Publicação: 03 set 2025 21:27 Data de Atualização: 03 set 2025 22:12

O 11º Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepei) do IFSC abriu espaço para um debate profundo sobre diversidade e inclusão com a mesa-redonda “Desconstruindo Barreiras: Capacitismo, Racismos e os Caminhos para uma Inclusão Efetiva”. A atividade foi mediada por Miria Tavares, estudante de Engenharia de Telecomunicações e bolsista do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Câmpus São José, que ressaltou a importância do diálogo aberto entre diferentes núcleos institucionais, como o Neabi e o Núcleo de Acessibilidade Educacional (NAE), na construção de propostas voltadas à superação de barreiras ainda presentes na educação.

O encontro contou com a participação de três convidadas que trouxeram perspectivas complementares sobre inclusão. A psicóloga Karla Garcia Luiz, doutora em Psicologia Social pela UFSC e pesquisadora na área de deficiência, destacou que a sociedade constrói historicamente significados negativos sobre a deficiência, associando-a a incapacidade, falha ou limitação. Para ela, o problema não está no corpo, mas nas barreiras sociais, pedagógicas, comunicacionais e arquitetônicas que restringem o acesso. Em sua fala, apresentou o conceito de capacitismo que é a discriminação baseada em deficiência, ressaltando que essa forma de opressão é estrutural e muitas vezes se manifesta de maneira implícita, até em discursos que aparentam ser elogiosos. Defendeu, ainda, o modelo social da deficiência, que desloca a responsabilidade do indivíduo para a sociedade, reforçando que cabe às instituições eliminar barreiras para garantir a plena participação de todos.

A professora Carolina Correia, coordenadora do Núcleo de Acessibilidade Educacional do Câmpus São José, relatou o trabalho desenvolvido pelo NAE na promoção da acessibilidade. O núcleo atua com acolhimento de estudantes e famílias, mediação com docentes, formações e rodas de conversa, buscando assegurar que todos os estudantes, especialmente aqueles com deficiência, transtorno do espectro autista, altas habilidades ou superdotação, tenham condições de participação plena na vida acadêmica. Para ela, o objetivo maior é que, no futuro, não seja mais necessário falar em “educação inclusiva”, mas apenas em educação, entendida como direito de todos.

Já a pedagoga Fernanda Carolina Dias, pesquisadora e servidora do IFSC São José há mais de dez anos, trouxe sua experiência no acompanhamento psicopedagógico de estudantes e ressaltou a importância do acolhimento, da escuta e da valorização da diversidade no cotidiano escolar.

As participantes também apresentaram materiais de referência, como o guia “Como Educar Crianças Anticapacitistas”, escrito em parceria com a pesquisadora Mariana Rosa, e um guia de práticas anticapacitistas na universidade, ambos disponíveis gratuitamente e com recursos de acessibilidade. As falas convergiram para a ideia de que a inclusão não se resume a adaptações pontuais, mas exige uma mudança estrutural e cultural na forma como se pensa a educação.

Amparadas por marcos legais como a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, incorporada à Constituição em 2008, e pela Lei Brasileira de Inclusão de 2015, às convidadas reforçaram que o direito à educação formal não está em negociação. Mais do que cumprir legislações, trata-se de reconhecer que a diversidade é potência e de assumir o compromisso coletivo de transformar práticas pedagógicas e institucionais. Como destacou Carla Garcia, citando a pesquisadora Mariana Rosa, o desafio não é mudar de escola, mas sim mudar a escola, tornando-a um espaço verdadeiramente acessível, justo e plural.

O debate foi transmitido ao vivo e está disponível no canal do IFSC no Youtube. Confira abaixo:

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