Povos marginalizados e soluções sustentáveis: saberes ancestrais em diálogo no Sepei 2025

SEPEI Data de Publicação: 03 set 2025 20:19 Data de Atualização: 03 set 2025 21:56

A mesa-redonda “Povos marginalizados e soluções sustentáveis – Saberes e práticas que conectam”, realizada no Sepei 2025, trouxe um diálogo entre saberes ancestrais e soluções sustentáveis para as edificações. A mediadora, professora Milena de Mesquita Brandão, destacou que o debate buscou aproximar técnicas tradicionais de construção como taipa de pilão, adobe e tijolos ecológicos, às discussões sobre habitação digna, acessível e enraizada nos territórios. Segundo ela, “é um convite à escuta e à valorização das práticas milenares como resposta concreta à exclusão social e ambiental”.

O professor Sérgio Parizotto Filho, do Câmpus Florianópolis, lembrou que a construção com terra não é novidade, mas sim uma prática ancestral usada há milênios, em obras emblemáticas como a Muralha da China. “Esses saberes foram perpetuados por diversos povos e, com o advento de novos materiais, como aço e concreto, ficaram em segundo plano. Mas, diante da urgência ambiental, voltam a ser considerados por seus benefícios”, afirmou.

Já o professor Anderson Renato Vobornik Wolenski, do Câmpus São Carlos, ressaltou que construir com terra significa pesquisar e compreender a diversidade do próprio solo, valorizando características regionais. Ele explicou sistemas como o adobe, a taipa de mão, o bloco de terra comprimida e a terra ensacada, lembrando que tais técnicas oferecem conforto térmico e acústico superiores aos métodos convencionais. “Construir com terra não significa precariedade, mas sim pensar em edificações duráveis e seguras”, afirmou. Wolenski ainda destacou a importância de enfrentar o preconceito cultural que associa casas de terra à pobreza. “Hoje, muitas construções em pau a pique só são acessíveis a quem tem alto poder aquisitivo, embora a técnica seja a mesma de séculos atrás.”

O debate também trouxe reflexões sobre o papel social da sustentabilidade. Para os professores, não basta pensar apenas na redução de impactos ambientais: é preciso garantir que as construções sejam acessíveis a todos, especialmente às populações marginalizadas. Nesse sentido, os mutirões comunitários surgem como alternativa para unir técnica, participação popular e pertencimento. “O morador fazendo parte da sua própria edificação não deve ser visto como menor, mas como valor. Existe ali afeto, suor e identidade”, disse Wolenski, que compartilhou experiências em comunidades quilombolas e ressaltou que a sustentabilidade começa na própria casa e se estende ao planeta.

Outro ponto em destaque foi a necessidade de formação profissional nesse campo. O professor Anderson citou exemplos de startups e empresas que começam a atuar em construções de terra, apontando para a possibilidade de atuação cooperativa e solidária dos futuros engenheiros e técnicos. “Não é porque construímos com terra que não precisamos de mão de obra qualificada. Já existem normativas para isso, e precisamos de profissionais preparados”, afirmou.

A professora Milena reforçou que esse debate dialoga diretamente com a extensão universitária e com a missão do IFSC como escola do trabalhador. Para ela, rever técnicas ancestrais como novas práticas é uma oportunidade estruturante para os cursos da área da construção. “O futuro é ancestral, como nos lembra Ailton Krenak. Nosso papel é resgatar esses saberes, ressignificá-los e trazê-los para os currículos, possibilitando que os estudantes se tornem protagonistas de uma mudança cultural e ambiental necessária”, destacou.

 O debate foi transmitido ao vivo e está disponível no canal do IFSC no Youtube. Confira abaixo:

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